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segunda-feira, 28 de março de 2011

Caminhoneiros encontram facilidade para comprar drogas

Você não sabe, mas o caminhoneiro que viaja na estrada ao seu lado cheirou cocaína e comprou droga no cartão de crédito. A Polícia Rodoviária Federal não fiscalizou nada. Quando "fiscaliza", finge e pede dinheiro. É denúncia. O Fantástico mostrou no dia 27 de maço com exclusividade. A reportagem derrubou o coordenador nacional da Polícia Rodoviária Federal.

Todas as autoridades se mostraram indignadas depois que as imagens foram ao ar. O coordenador nacional de operações da Polícia Rodoviária Federal foi exonerado. O repórter Maurício Ferraz mostra em detalhes esse escândalo nas rodovias brasileiras, começando com uma denúncia chocante: drogas vendidas abertamente em postos de combustível e pagas com cartão de crédito.

É uma viagem de dez mil quilômetros em uma boleia de caminhão. Passamos por 11 estados. Geralmente quem nos oferece drogas são os funcionários dos postos de combustíveis. Em um deles, na BR-101, em Itajaí (SC), o frentista oferece cocaína ao nosso produtor logo que paramos para abastecer

O frentista diz que, depois do serviço, vai se encontrar com traficantes e que três caminhoneiros já encomendaram a droga. Nosso produtor simula interesse. O frentista ficou de trazer a cocaína para outro posto. Nós não compramos a droga. A gente só quer saber se ele vai cumprir com o combinado. À meia-noite, o frentista aparece, como havia prometido. Ele não encontra nosso produtor e vai embora.

Em Itajaí, fica um dos maiores portos do país, o que explica a grande quantidade de caminhoneiros na região. Fomos a outro posto de combustível, ainda na BR-101. A informação é que os frentistas oferecem cocaína para os caminhoneiros. Nós fizemos um teste para ver se realmente essa informação é verdadeira.

Nosso caminhão encosta próximo a uma bomba de combustível, como se fosse abastecer, e mais uma vez um frentista oferece cocaína sem nenhum receio. Quando já íamos embora, uma surpresa: o frentista diz que a droga pode ser paga com cartão de crédito. No outro dia bem cedo, voltamos ao posto e encontramos o mesmo frentista. Segundo ele, a venda de cocaína acontece durante 24 horas.

Em Uruguaiana, cidade gaúcha, fica o maior porto seco da América Latina. No imenso terminal de cargas, há caminhoneiros de todo o Brasil. Por lá também há muita droga. Durante os 20 dias que passamos na estrada, encontramos venda de drogas nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Alagoas.

Além da cocaína, flagramos também muita venda de crack. "Há muito tempo era maconha. Do ano passado para cá, nós detectamos que a primeira droga a ser utilizada é justamente a cocaína", afirma o toxicologista Anthony Wong.

Em um posto, a venda de drogas é feita ao lado de várias crianças. Na BR-116, em Cajati (SP), caminhoneiros também conseguem comprar crack bem ao lado de uma delegacia.

"É a lei da sobrevivência. Os horários e as premiações fornecidas pelas empresas que contratam os caminhoneiros estão obrigando eles a recorrer a esses entorpecentes para poder cumprir esses compromissos", alega Diumar Bueno, presidente da Federação Nacional dos Caminhoneiros Autônomos.

Na viagem, pegamos carona com o caminhoneiro Nilton Clemente Mina. Há 28 anos na estrada, ele diz que nunca precisou usar drogas e também não se envolveu em nenhum tipo de acidente.

"Não adianta botar muita pressão demais e aí depois não aguenta. Aí acontecem os acidentes. Tem que ter o repouso também, não é só dirigir. Tem que ter a horinha de repouso. De 100 ou 200 quilômetros, dá uma paradinha para dar uma relaxada e depois continua de novo. A noite é para dormir, como diz o outro", comentou o caminhoneiro Nilton Clemente Mina.

FONTE: Reprodução/TV Globo.